In the Rain

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Desencontros



Nos encontramos por acaso, naquele café que ambos frequentávamos há anos. Mas fora realmente conicidência, eu mesmo não aparecia por lá há um tempo tão árduo quanto minhas viagens.
Um expersso cruto, pedi enquanto abria o livro e ajustava os óculos sob meu nariz achatado. Ao meu lado, pediu a moça um suco de manga, quase desacreditada ao perceber que por trás daquela armação arredondada havia um conhecido de tanto tempo.
- Ual! - disse - Só aqui mesmo pra eu te encontrar, seu fujão! - Eu sorri desconcertado. Imediatamente nos alojamos numa mesa e perdi as contas de quantos cafés mais tomei.
- O que houve com você, sumiu. - Disse ela com aquele brilho habitual no olhar.
- Viajei mais do que gostaria - Foi a resposta mais imediata que pude dar.
Os grandes olhos dela sugaram minhas as vezes patéticas histórias de viajante.
- E qual você gosta mais? - Perguntou ela sem esperar a resposta certa.
- A verdade é que gosto e desgosto igualmente de cada um desses lugares.
Ela não me olhou surpresa. Conhecia-me a tempo suficiente para não pedir explicações. Fez uma rara pausa em seu falar constante. Seus olhos contornaram o café e quando me encontraram novamente ela começou a falar de si. A verdade é aquele acaso e a indiferênça que ela pela primeira vez demonstrara pareciam perdidos em nosso assunto. Afirmou de repente que estava bem, e que apesar dos problemas, era feliz. `As 16 horas, precisamente, ela terminou a conversa sorrindo, levantou-se, pagou sua parte da conta e saiu; não antes sem pedir meu novo número de telefone.
- Vê se não some de novo! - Como sempre acenou com os dedinhos e seu beijo fez um pequeno e nostálgico estalo na mina bochecha.
Ela sabia que eu não ligaria, que não faria esforço para vê-la, que não voltaria ao café tão cedo para provocar outro acaso. Talvez seja por isso que eu não a tenha visto por lá durante os dois meses em que meu expresso curto se repetiu durante as tardes semanais naquele mesmo balcão.
Eu sabia, ela não ligaria. Esperava ainda que eu fosse a seu encontro. Por isso, precisamente `as 17 horas e 15 minutos ela me telefonou. Sequer eu pude dizer alô.
- Nina morreu! Achei que você gostaria de saber. - Ela não desligou nem disse mais nada. Apenas confirmou o local do veleório.
Há tempos que não via Nina, não pude imaginar que nosso próximo evento seria tão gélido.
Acheia-a no velório. Ela estava lá, rodeada de desconhecidos meus. Veio a meu encontro, não disse nada. Não chorava. Eu apenas tomei-a nos braços.
- A gente sempre soube que ia ser assim.
- A doença... há quanto tempo. Não é melhor assim?
- A gente sempre soube que ia ser assim... - Fingi não compreende-la. Apenas mantive-a em meus braços. Ela afastou-se.
- Olha pra mim - disse - você sabia, não sabia?
- E você? Não sempre soube? - Os olhos dela desviaram dos meus. Pela primeira vez ela exigiu respostas. Pela primeira vez uma lágrima lhe escapou. E depois outra, e mais outra.
- Você sempre soube que não é Nina. Você sempre se afasta de Nina.- Aquela talvez fosse a maior de suas mentiras. Nunca houvera ela, ou Nina, ou a mim.
- Eu não posso mais ficar. Entenda, esse lugar parece perfeito demais para mim. - Por mais uma primeira vez ela seria incapaz de aceitar justificativas. Quem sabe um dia eu pudesse lhe responder.
- Você não se importa, não é? - Eu observei-a, enxuguei sua lágrima com as costas da minha mão. Aproximei-me, beijei sua testa e me afastei.
- Ah Nina minha, não precisa mentir. Você também sempre soube que seria assim.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Exílio


Eu moro no exílio, foi assim que escolhi, por mim, ao acaso.
- Você nunca virá pra cá. Não minta!
Ele silenciou minha boca com um dedo apenas, fitou-me com a alma partindo pelos olhos.
- Não diga... nunca.
Sei apenas que ele nunca veio. Eu sempre soube que seria assim. Talvez ele tenha apenas me desencontrado....
Este é meu exílio, eu escolhi. Minha mãe o detesta, diz que cheira a bolor. Quem sabe, ora, dos cheiros que sinto? Esse lugar me pertence e cada passo que dou cá, nesse desterro, torna-me apenas mais sem lugar.
- Com certeza seria melhor estar aí,com você. - Ah! Quantas vezes mais esse exílio se torna esperança, coração algum sabe.
A verdade é que aqui sou só, durmo só, caminho só, adoeço só. Aqui cheira a mofo apenas dos verões aos outonos.
Este é meu exilio, e me pego as vezes lendo as mensagens que você mandou ainda ontem. Aqui abro a janela e o vento dá tapas no rosto. Pequeno exílio este meu; espera visitas, recebe angústias, aplaude lágrimas.
No meu exílio há cores, e pontes, e chuva, e rios, e a mim: que não sou nada aqui, lá ou em lugar algum.