In the Rain

domingo, 23 de março de 2008

Já escrevi coisas melhores, mas ultimamente soh sai isso daí.

Cartão Postal

20/3/2008

Ele tocou o rosto dela de forma amigável. Ficariam muito tempo sem se ver depois daquela noite. Ela deu um sorriso singelo, em seguida desviou os olhos e se afastou ligeiramente. Paulo tinha as feições magras, o rosto escondido por detrás da barba, agora tão cheia que quase lhe apagava o sorriso. Seus olhos claros, levemente embriagados, permitiam que a mão as vezes descesse pela cintura dela. Marina lhe devolvia o gesto ora constrangida, ora fingindo não entender bem o que aquilo significava.
- Você me manda um cartão postal? – Ela disse de repente – Daqueles bem bonitos! – Emendou já sorrindo e fazendo tudo aquilo parecer inocente.
- Cartão Postal? – Pensou alguns segundos olhando para cima – Hun... não sei se você merece... – Sua voz tinha aquele ar de quem já bebeu algumas cervejas a mais.
- Por favor, vai. – Ela amenizou doce, fingindo não saber o que ele pretendia. Paulo riu de leve, aproximou-se de seu rosto com uma intimidade inóspita.
- Você sabe que tudo nessa vida tem um preço. – Disse ameno, chegando sempre mais perto.
- Não, Paulo. – Ela afastou-se ligeiramente frustrada. – Não... – Sua voz decaiu, e em forma de manha ela voltou a insistir no cartão.
- Por que não? Eu vou embora amanhã, e essa história termina aqui. – Ela respirou fundo, pegou o caderninho de notas e lembretes que ele sempre carregava. Ele preocupou-se em pegá-lo de volta, ela em afirmar que nunca houve história alguma entre ambos. Discutiram mais que o suficiente sobre aquele beijo e aquele cartão.
- Sabe, eu não vou explicar de novo o porque das minhas decisões. – Ela completou.
- E eu não vou mandar cartão algum. – Disse enquanto tomou de uma vez por todas o caderno das mãos dela. Afastou-se, pegou outra cerveja e não disse mais nada a respeito daquilo. Sentou-se perto de outras pessoas, mas de vez em quando deixou escapar um olhar na direção dela. Marina não costumava desviar os olhos, não costumava dispensar as conversas, não costumava afastar-se dos toques, costumava apenas a desviar de seus beijos.
A noite foi longa, risadas, bebidas, amigos. Aos poucos todos se foram, e quando Paulo se deu conta, já era meio dia, e ele estava acordando. Sua cabeça latejava e seu corpo doía da noite mal dormida no sofá. Teve tempo apenas de tomar um banho rápido e pegar sua mala. Antes que pudesse esquecer de algo conferiu seu caderninho, cuja a capa informava em letras redondas:
- Não esqueça meu cartão postal!