In the Rain

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Quantas incansáveis e inexistentes vezes eu já retomei esse mesmo bloco de notas, cansado do mesmo tema e das mesmas palavras insólitas. Agora parece não fazer sentido, como se outrora fizesse, como se sempre tivesse algum dia sido assim. O porque de tudo se perdeu no momento que ele me deu as costas - sempre o instante em que tudo vem a tona. Ali toda toda a lembrança fez sentido. Parece estranho, foi tão rápido. De repente aconteceu e não houve sequer manchas no lençol.
Ele me olhou de dentro pra fora, disse frases vazias, sem saber tirou um pedaço de minha carne que ainda viva talvez gotejasse um resto de sangue. Perguntaram-se como foi, se senti dor, prazer, ou algo assim. Lembro que parecia algo anterior ao orgasmo, mistura confusa das duas sensações.
Não me lembro exatamente de onde ele veio, talvez eu tenha preferido esquecer. Apenas lembro de que aquilo tudo não tinha cheiro, nem gosto, nem nada. Deixava marcas, não manchas. A última vez em que o encontrei ele descia as escadas distante, sem intenção alguma de olhar para trás. Ele nunca olharia e foi por isso que eu também não olhei, evitando aos poucos a dor daquela recusa.
Da última vez eu novamente fiquei parada, ouvindo ele falar e depois dizendo todas as coisas que aparentemente me confortariam. Não sei até que ponto isso tudo é sincero, não sei até onde isso vai chegar. Algumas lembranças se perdem no meio do caminho, conforme os anos passam fica apenas o que interessa, o que marca. Eu não posso competir, nunca pude, não sou páreo, não estou aqui pra isso. Aos poucos fiquei parada, me desfazendo frente aos olhos dele. Não sei até onde isso pode chegar, se leva a qualquer direção.
Ontem o mundo não se desfez, as vozes não se perderam, o chão não escapou sob meus pés, e tudo isso aconteceu de uma só vez. A realidade é sempre mais crua. Ontem havia manchas no lençol, havia sangue por todos os lados, havia fantasia desfeita. Ontem o mundo não acabou, nem por isso as coisas foram como sempre são. Ontem o lençol estava manchado e o meu corpo pálido estava lá: ferido, marcado e frio, como sempre esteve...


14/05/2008