In the Rain

sábado, 8 de janeiro de 2005

Pedaços de papal rasgado



Os desenhos e escrituras no papel diziam tudo. Era passado, presente, nada, coisa alguma. Deixara registrados nomes ali, jogou as folhas numa velha gaveta para as traças comerem, assim como fazia com qualquer papel que rabiscava.
A noite quente ajudou a ferver as lembranças, o sonho ardente corria de mãos dadas com tudo aquilo que nunca acontecera, nas folhas nomes... desejos.
"Você tem o dom de encantar as pessoas" A frase antiga se fez previsão, e no sonho do futuro havia banco, calçada, roupa, desenho, dança, encanto, felicidade. Criou pequenos seres que nunca existiram, colocou personagens que nem sequer viveram.
Chegou em casa lá pelas três e muito da madrugada, chovia forte, estava cansada... chegou em casa, achou espalhados os papéis, por toda a casa. Pedaços de sua vida pelo chão, folhas arrancadas de cadernos. Caminhou em silêncio, e no ronronar da noite ouviu as risadas inquietas e chatas vindas da brisa.
- Quem está aí? Quem bagunçou milhas coisas? - A risada vinha de uma folha antiga, amarelada, que sorria através de uma rasura bem riscada.
- Seu passado está em mim, e nada vai deter! Mão se esqueça, estará sempre dentro da sua cabeça! Venha comigo, eu que ver você se afogar nas suas memórias. - Tinha medo, e quando olhou para as outras folhas elas também riam alto numa ilusão verdadeira e sem fim. Algumas riam alegres, outras irônicas, outras maquiavélicas, e também avia quem chorasse.
Subiu então um nervosismo desenfreado a cabeça, apanhou com fúria e brutalidade todas elas, sem se preocupar se as amassava ou as estragava. Rasgou raivosa umas três ou quatro que riam cruéis, mas elas se refizeram e voltaram a rir mais e mais alto.
Saiu então correndo pela chuva, tinha medo, fúria, calma, loucura, frenesi!
Voltou em passos lentos, estava silencioso, quieto demais, as mãos úmidas mancharam a tinta de muitas folhas ao remexe-las sobre a mesa. Olhou-as numa forma tranqüila, analisou-as com cuidado, rasgou-as com compostura, rasgou-a com fúria, cuspiu, pisou em cima, espalhou pela casa toda.
Ajoelhou-se sobre os papéis rasgados, apenas pedaços de uma história, sorria, de canto de boca, chorava, jogava os pedaços para cima... jogava o passado pela casa, tentando se enganar, fingindo que assim poderia se livrar da sombra dele

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