In the Rain

quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

Alexander, the Great

18/01/2005

Nem tinha nascido e mão já tinha dado nome. Era um menino, e seria Alexander. Dona Idalina foi pessoalmente ao cartório, para que ninguém escrevesse o nome do menino errado. Associou o filho ao grande herói da história, mas tinha que ser em inglês, assim mesmo, soava melhor, embora em muitos lugares, e até mesmo na escola era chamado "Alechander". Meu filho vai ser bravo, ele será grande.
Realmente ela estava certa, o menino cresceu, ficou enorme, com doze já era o mais alto da turma, e parou d crescer aos 20 com um metro e noventa e sete com postura e 1 e noventa e pouco encolhido. Era um pau, ou poste, ou vareta, ou tanta coisa. A mãe, nem precisa dizer, adorava o menino, era lindo. Está certo, tinha o nariz bem feito, e a boca normal, mas os olhos esbugalhados e afundados na face magra eram uma tristeza.
Ainda não sei por que as mães insistem em por nomes grandes nos filhos, todo mundo está cansado de saber que Francisco vira Chico, Eaduardo Edu, Leonardo Leo. Mas fazer o quê? Com o Alexander não era diferente, virou Alê para todos. A Dona Idalina, essa ficava doida com essa história, se bem que ela se irritava mais com os muitos apelidos do que com as próprias abreviações. Seu filho tinha que ser grande, nome grande, futuro grande. E para isso nada melhor do que natação, teatro, duas escolas, idiomas, artes marciais, um mundo. Mas não tinha jeito o menino, era calmo, anti-social, despreocupado, e não importava o que fazia sempre estava magrelo. Alê, ou melhor dizendo, Alexander, não era de ligar para as piadas não. Se gostava ria, se estava ofendido... bem... ele ria.
A mãe, ih, esta ficava azul, verde, cor de burro quando foge. Via nos sonhos as amigas, a vizinhança, rindo de seu filho que não era do jeito que ela queria. Pesadelo! Tortura. Tentou de tudo então, conversas sérias com o filho.... inútil. Ele era daquele jeito, e era porque era, simples e assim. Sem mais.
Alexander cresceu, e a vontade de um filho perfeito não diminuiu. Ele namorou, namorou, noivou, desnoivou, noivou outra vez e não casou. Teve um dia que a mãe quase caiu para trás. Ele noivou, pela terceira vez, mas a noiva era noivo na verdade. O susto foi grande, mas ela sempre dizia às amigas que aquilo era fase, fase de adolescente de trinta anos. Mas no final, desnoivou outra vez. Antes Dona Idalina não tivesse perguntado o porque. "Ele tinha jeito de mulher, não gosto disso" A resposta foi clara, e avassaladora.
Desse jeito mesmo, nessa loucura toda, o tempo passou... passou... passou, lá pelos quarenta Alexander era até mais vaidoso, estava mais atendo, continuava resguardado, tinha crescido muito, estava grande, estava diferente.
Foi num desse dias dos quarenta e tantos anos que Idalina entrou de sopetão no quarto do filho. Ele esquecera de passar a chave. Os brinquedos, velhos e estocados, novos e coloridos estavam espalhados pelo chão. Brincava, como uma criança que não fazia tantas coisas na infância. Na cama, o retrato antigo, de um menino da turma que a mão o fizera afastar na pré adolescência por desconfiar que era gay e podia ser uma má influência. Ela olhou para o filho, os olhos baixos e acanhados dele a encontraram. Fechou devagar a porta, parou quieta, pensou. Os olhos abriram rápido, estalou os dedos, uma idéia: Já sei! Acho que vou mandá-lo ao psicólogo.

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