In the Rain

quinta-feira, 11 de março de 2004

A outra face


Enquanto ela caminhava, lhe diziam "bom dia", que era respondidos simpaticamente, com olhares e boca sorridentes. Chegou feliz pela face, Contou mil e uma coisas boas, mil e um delírios. Cumprimentou várias pessoas, riu de si, riu-se só. Andava normal, mas padecia sobre si uma ar de leveza. Olhou-se no espelho, e viu no reflexo um sorriso no rosto, enquanto a séria era sua semblante. Quando lhe ofenderam ela riu ironicamente, chegaram a perguntar se algo havia acontecido ou se estava de mal humor por um instante, mas ela simplesmente respondeu que não, que ficar de mal com a vida não fazia parte de si. Gastou palavras para esconder-se de si, e enfiou pensamentos embaixo do tapete. Lembrou, e tornou lei, que não era de entristecer-se. Enquanto estava só olhou séria para o nada, e pensou em si. Procurou um espelho, e viu-se sendo repartida, começou a falar com sua imagem:
- Não fique assim, você já sabia mesmo, vamos anime-se, estou fazendo minha parte faça a sua - Ela puxou-se pelo braço - Venha, não é fim, pense nos lados positivos, no que você precisa agora, no quão bela você é capaz de se tornar, afinal... você sempre tem o que quer certo?! - A imagem real suspirou, e falou baixo:
- Não é nada disso... você não entende. Não é apenas isso que está me deixando assim. Eu... sempre destruo tudo, destruo princípios, destruo o que os outros e eu mesma acreditam. Não é a primeira vez que isso acontece, sempre... tudo da maneira mais difícil... sempre me olham com olhos de desejo, mas não sei quantas vezes fui levada a sério. Quando isso ocorre sinto que não sei guiar... Pensando bem eu sou levada a sério, eu é que não levo nada...
- Esqueça, você está apenas confusa, não fez nada de errado, não há porque. - Ela olhou fixamente para seus olhos - Me escute agora... olhe para você, olhe tudo a seu redor.
- A única coisa que vejo... quem vai olhar para alguém estranha como eu? Talvez tenha algo que atraia, algo belo, mas não deve ser suficiente... parece que... ah! Esqueça, nem você merece ouvir tantas besteiras...
- Não acredito que você está dizendo isso! Você sabe bem das suas qualidades, de tudo, sempre soube! Já te disse, não ponha culpas em você, nem nos fatos, nem na sua capacidade de correr atras do que quer. Não há nada de errado com você.
- Não é totalmente minha, mas tenho parte nessa história, como em muitas outras.
- Pense, e não faça esse olhar miúdo e quietinho. Eu não consigo vê-la assim, sem falar, não abaixe a cabeça, suba os olhos, não adianta ficar assim. Pense, e de um tempo para você! - O reflexo e a realidade se fundiram, enquanto ela olhava timidamente para seu rosto. Esboçou-se no espelho um sorriso amarelo, unificado. Ela andou um pouco, em silêncio, ouvindo seus passos, desceu alguns degraus, lembrou de imagens, gestos, limpou a mente, esvaziou-se, relembrou, fechou os olhos para tentar ouvir-se. Enquanto consolava-se encontrou um amigo. "Bom dia!" Ele cumprimentou. Ela respondeu com um sorriso aberto, mas de seus olhos caiam lágrimas carregadas, cheias de dor. Ele assustou-se, e nem soube como reagir. Ela correu para o banheiro, ele foi atras, subtilmente, tanto que ela nem sequer o viu. Quando encontrou-a no banheiro viu-a olhando para o espelho, falando algumas palavras soltas consigo, e sendo abraçada por seu reflexo. Uma sorria a outra chorava. Ele esfregou os olhos, e elas fundiram-se, estava abraçando-se, como se houvesse ainda alguém, enquanto isso chorava. Tentou aproximar-se, o que a fez perceber que ali havia mais alguém, ele hesitou um pouco, foi chegando mais perto, lentamente, e antes que pudesse perguntar algo viu que a face da amiga mudava. Ela abriu uma largo sorriso e apenas respondeu simpaticamente: "Bom dia!"

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]



<< Página inicial