In the Rain

quinta-feira, 31 de outubro de 2002

Vento de Primavera


Encolhida, no canto da ampla sala, com o rosto nos joelhos. Quieta. Seus olhos, sem força. Sua boca, sem dor. Seu peito morto. Linda manhã, que por entre as janelas soprava a brisa perfumada. Belo campo, pelos quais passeiam os apaixonados em sua distração tola.
Agora não está mais recolhida, levantou-se para ver a janela, aspirou o perfume da estação. Pelo campo passeiam seus olhos, vigiando cada passo. Inveja? Talvez...
Sonha acordada, vazio dentro de si. O mar agita suas águas, fostes ondas quebram em seu peito. Segue cada segundo, está segura, forte, tenta evitar, é inútil. Cada rosto, cada lembrança, sentimentos, torturas. Passado ou presente que faz-se ausente. Antes, agora, ontem, que morreu. Hoje está quieta, no seu leito interno. Quer sair e encontrar, procura, cansou-se de olhar, de desejar, odeia fingir, odeia chorar, quer, precisa, deseja, ordena! Um sorriso, apenas um.
Está tão fora de si que nem ouve o ranger da porta. Ainda olha, engole o choro, uma lágrima tenta escapar pelo canto de seu olho. Apoiou o rosto na mão, sentiu-se sendo puxada, caindo sobre o colo de alguém, alguém que queria a ajudar. Palavras sussurradas ao pé do ouvido, calma, conforto. Ela procurava esconder seu rosto, ele não compreendia e, embora tenha praticamente a forçado, a fez olhar-lhe nos olhos:
- Por que foges? – perguntou assustado
- Por que aquele que me ver chorar irá, irá...
Não concluiu a frase, pois as lágrimas escorreram por aqueles olhos. Ele ficou sem reação, não sabia o que fazer ou dizer, pois nunca havia estado numa situação como aquela. Olhou-a, apenas, com certo carinho, imaginando assim poder ajudá-la. Ela procurou afastar-se, sem nada dizer, mas ele a conteve. Sem relutar ela manteve-se na posição, sendo um bebê no colo da mãe. Cessou o choro, ficando apenas a soluçar.
- Por que choras? Perguntou
- Não sei, tolice, talvez...
- Não, nunca chorarias sem motivo algum, o que houve conte-me afinal.
Ela olhou-o e o recolheu num abraço mais forte.
- Por que tudo o quer realmente desejo vai-se embora, escapando por entre meus dedos? O que faço de errado? – Ele não podia dar uma resposta, apenas fez-lhe outra pergunta:
- E o que tanto desejas agora? Não sejas pessimista, nem tudo o que queres desaparecerá.
Com muita timidez, (estava tremendo) ela respondeu:
- Quero... Tu. – e soltou-se do abraço. Ele espantou-se, mas não permitiu que ela fosse embora. Abraçou agora com mais força, tomando-a num beijo. O tempo lá fora fechou, a perfume estava quase oculto. Ela abriu então os olhos, viu-se no jardim, só. Ele fora levado pelo vento, desaparecendo na neblina. Mais uma vez ficara só.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]



<< Página inicial