In the Rain

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Fotografias


- Pai, paiê, vem aqui. - o menino gritava num ânimo desesperado.
- Já vai, já vai... - Andava calmamente.
- Vem logo pai..
- Que foi? Para que tanto desespero?
- Quem são esses daqui da foto? - O menino tinha um álbum enorme nas mãos, cheio de antigas fotografias.
- Esses.. ah, são... eram os amigos do papai quando ele era mais novo. - Disse num tom melancólico e saudosista.
- Nossa! - espantou-se o menino - E você conhecia tudo isso de gente?
- Sempre têm alguns que a gente conhece melhor que outros. - Respondeu com um sorriso tão amarelo e malicioso quanto apático.
- E essa daqui? - Perguntou muito curioso.
- Ah, você não ta reconhecendo não? Olha bem...
- A mamãe? - Chutou.
- Ela mesma.
- Que roupa esquisita. - Torceu o nariz.
Ficaram ainda algum tempo revendo as fotos antigas, até que o menino se cansou de tantas pessoas que ele não conhecia e saiu, deixando as fotos largadas na mão do pai.
- Ual... isso faz muitos anos - murmurou para si. - Tantos anos. - Recolheu devagar as fotos, reorganizou-as devagar enquanto desenterrava todas aquelas lembranças.
- Eram meus amigos... - Murmurou de repente sem perceber. Nunca pensou que apenas uma frase dita a toa pudesse lhe tornar mais fraco de uma hora para outra. Pensou em que rumo os outros poderiam ter tomado, se ainda gostavam das mesmas coisas ou se lembravam dos velhos tempos.
Arrumou cada foto devagar e ficou um tempo parado pensando se deveria ou não tentar falar outra vez com alguém.
Tentou alguns contatos. Muitos tinham mudado de casa, ou mudado de vida. A gente precisa se ver... diziam, mas a gente nunca vai se ver, pensavam.
Não havia mais lugar naquelas vidas para as antigas amizades, talvez porque não eram mais amigos, não eram mais um grupo e todo o resto ficara apenas congelado nas imagens antigas.
Passou dias pensando naquilo, agora olhava as antigas fotografias com mais freqüência, como se a dor de vê-las restritas ao passado pudesse lhe trazer certa esperança. Tentou algumas últimas vezes retomar os contatos. Não fora inútil, pois os poucos que achou no mesmo lugar trouxeram uma conversa gostosa e saudosista. Mas, por fim, desistiu daquelas fotografias e guardou-as de vez no baú. Quem sabe mais para frente se aventurasse a vê-las novamente.
Finalmente deixou de lado toda aquela melancolia. Certamente assim deveriam ter feito seus amigos. Depois esqueceu até onde havia guardado-as, assim como esquecera da promessa de nunca se separarem.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]



<< Página inicial