In the Rain

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

História quentinha, acabou de sair.
Temores


A noite fez-se imóvel, assim como a figura estática que mal ouviu os ruídos do lado de fora. Ele levantou apenas uma das sobrancelhas e continuou parado, pensando no que poderia estar passando por sua mente.
De repente, sem barulhos, a voz tiniu pela leve claridade da lâmpada no centro da sala. Foi uma questão de baixar os olhos um instante e tentar procurá-la para que ela fosse embora. Eu devo estar enlouquecendo, pensou. Só pode ser isso.
Já estava aflito, e sem perceber pegara o livro que estava próximo a antiga mesa onde ficava o telefone. Abriu na metade, começou a ler parágrafos aleatórios, começou a prestar a atenção nos pequenos ruídos provocados pelo silêncio. Ah! Se fosse cinema, certamente haveria um assassino junto a porta, pensou novamente. Sabia que não havia, mas começou a controlar a respiração, que ficava mais ofegante cada vez ele tentava torná-la mais amena.
A luz era fraca, uma lâmpada apenas para uma sala toda. Suficiente para a leitura ou para achar algum objeto, mas coadjuvante num momento como aquele. Fechou o livro rápido, como se estivesse pressentindo algo. Levantou-se sem produzir ruídos, pegou com cuidado o casaco leve. Procurou a chave para dar uma volta.
A chave... onde estaria aquela maldita chave? Onde estaria aquela maldita chave? Procurou em vários luares. Não achava, merda de luz, pensava, luz, merda, merda... Cadê a chave? Onde eu pus a chave? Começou a ter medo, ser consumido pelos próprios temores. Abriu rapidamente as pequenas gavetas do móvel da sala. Que inferno cadê a chave? Tremia, tremia, procurou a maldita por toda a sala. Só poderia ser uma conspiração, estavam tentando algo contra ele.
A noite começou a deixar de ser apenas um mero silêncio, passou para uma astuta agonia. Começou a ventar para as janelas baterem, lá fora já ameaçava a suposta chuva. Ele estava preso dentro de sua própria casa. Não havia saída.
Ainda mexeu nos bolsos, mexeu em tudo. Antes quer surtasse achou-a, escondida num lugar comum, bem à mostra. Levou-a até a porta, que não abria... Não abria, não abria!!!!!! A Porta, a chave... como poderia? Entrou em Pânico, ouvia passos, ouvia. Tinha alguém atrás dele, alguém tinha trocado a fechadura da casa. E o livro? Ele deixara em algum lugar, onde estaria? O livro, o livro... sua proteção! Deixou a chave na porta, foi atrás dele. Perdeu-se dentro de casa, os passos, ouvia, mas não havia ninguém. Respirou ofegante... Estou louco, deve ser isso.
Acordou, deitado no chão da sala. O livro ao seu lado. Levantou-se rapidamente. A chave não estava na porta. Nem no chão, nem e lugar algum. Isso só pode ser alguma brincadeira. Foi verificar as janelas. Trancadas, e com grade. Mas... nunca tivera grades em casa. Havia um aparelho grande na antiga mesa de telefone, cheio de botões. Acendeu a luz. Horrorizou-se. As paredes pintadas, o teto cheio de pequenas lâmpadas, e no quintal, visto pela janela de vidro... onde estariam suas roseiras? Ele sentou-se no chão novamente. Chorou devagar. Seus livros não estavam mais guardados no móvel, que sequer existia. Aquela casa, de quem era aquela casa? Não havia pessoas e tinha engolido seus objetos...
De repente ouviu passos, mas sequer se preocupou. Deitou-se no sofá, que não era o seu. Sentia, as vezes, alguns calafrios pelo seu corpo. Ouviu algumas conversas pedidas, mas nada importante ou que ele quisesse prestar a atenção. Apenas deitou-se, perdido no tempo e melancólico por não saber onde estava ou se pertencia aquele lugar. Dormiu sob as luzes, e esperava um dia acordar novamente em seu canto meio escuro, em seu rítimo, em sua época.

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