In the Rain

domingo, 29 de maio de 2005

Brinquedos

Denise Szabo, 31/10/2003

Eram urso, casa, carro e boneca. Era vidro que separava o sonho da realidade da rua.
Em minhas mãos apenas um velho urso que ganhei nesses "natais". Meu olhar, parado e tolo, lembra a infância que não agarrei. Brinquedos e diversão, apenas do outro lado do vidro.
Há muito que saí de casa, desde que meu pai começou a beber. Minha mãe engravidava de qualquer vagabundo e foi posta na rua por meu pai.
Saí de casa procurando esperança onde menos poderia encontrar, na rua. Tive vários "amigos" que às vezes até ajudavam com algum dinheiro ou droga.
Aurora da vida? Infância querida? Talvez esse poema soe melhor como piada para mim.
Num natal ganhei um urso, dessas pessoas que vem nos ajudar para limpar suas imundas consciências. Sonhei tanto já, mas decidi crescer de vez. Hoje foi meu último sonho, o sonho da loja de brinquedos. Já sou mulher, menos tola. O vidro, os brinquedos com os quais nunca brinquei.
Pela porta saía uma mãe, um menino com uma pacote. Inveja minha, mal quis encará-los. A vitrine era um ímã que me puxava, o ímã dos tolos.
O vendedor me tirou de lá, enxotando-me educadamente. Fui andando, segui fraca e com a alma, ainda meio infantil, triste. Sentei no banco da pracinha, no centro, era hora de crescer. Olhei meu velho urso, joguei-o longe, acendi um cigarro, e sem forças esqueci a dor, esqueci até que queria me vingar.

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