In the Rain

segunda-feira, 25 de abril de 2005

Delírios


Caminhou, o sorrir doce e envolvente. As ruas ligeiramente cheias, as brincadeiras que inventara para distrair-se. Respostas doces para perguntas cretinas de desconhecidos. Olhos cintilantes, mente vazia, pernas que saltavam, alma alucinada. Calor, o peito ardente, os braços magros, o roto fino, as pernas empolgadas e em força.
Desbravou a noite sem motivos, seguiu por novos caminhou sem acreditar em salvação, fantasmas ou maus urbanos, desvendou mistérios em si, dançou só, dançou coma lua, dançou de olhos fechados.

A noite caiu, fora dia em prece, tombou-se o corpo ali; e ainda assim padece. A chuva foi, rezou a vida, o som das gostas fez esquecer a tosca despedida. Enalteceu a noite em relâmpagos, infestou-se deles a memória, e se a mágoa entristeceu por birra, criou para si uma nova história, mais complexa e mais amiga.
A água cai, mesmo inútil ainda tenta a prece, mas é suicida, é ateu, mal se reconhece. Segue agora em vida, inconsciente, a alma é perdida, nem mais os pés sente.

Naquela noite, após a chuva, o vento vedou o calor numa caixa abrindo à noite ao frio. Os pés desajuizados haviam mergulhado nas poças por toda a noite, caminhou de mãos dadas com a insanidade. Os cabelos loiros, cacheados, encharcados e a roupa de verão padeciam desacordados na calçada. Tremia, mesmo inconsciente. A bca roxa de frio, os olhos afundados no rosto quase encovado.
- Eu estou no céu? - Balbuciou quando imaginou sentir novos pingos de chuva sobre sua face. A resposta não chegou, não havia ninguém para ouvir aquele delírio ateu sozinho largado na rua, assim como nunca houvera.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]



<< Página inicial