Aceito Passe


A velha calça preta jeans desbotada, os olhos semi fechados desprotegidos e
com medo do sol. A camisa verde, de linha, com listras brancas e manchas meio
amarelas.
Eram balas, que passavam rapidamente pelos olhares apressados. Faziam sinal
negativo com a cabeça, mediam-no de cima a baixo. Outros passavam desconexos com aquele mundo tão distante de si mesmos. Sequer o viam, sequer viravam o rosto para
o lado.
Os sorrisos manchados de amarelo, aceito passe, retrucava, mas padeciam
educados nos rostos comuns. Aceito passe, repetia triste enquanto ia aos poucos
perdendo dentro de si o resto de sua vida. Deixava a barba esconder seu rosto
enquanto sua imagem virava apenas reflexo.
Não era malandragem, era súplica. Nem por isso mudavam as reações; as
cabeças continuavam a balançar, as vozes continuavam a deixá-lo mais impotente.
Aquilo não era para elas, nem para o mundo delas.
Tudo se formou como um borrão na minha memória. Mas sua figura caída não
passou despercebida por mim. A camisa verde, cor tola da esperança, era contraste com a avareza branca e preta que lhe sorria amarelo.
Era mais que uma venda, era um gemido angustiado e desesperado, baixo em
sua apatia, morto em seu mal gosto.
Olhei-o ainda mais uma vez, numa fria análise sobre sua figura. Malditos
avarentos, por um instante pensei. Logo depois subi no ônibus, sem comprar uma bala
sequer.