In the Rain

sábado, 15 de janeiro de 2011

Sem cedilhas e com alguns errinhos ainda. Mas saiu do forno agora

Catastrofe


Vermelho ou rosa? Fosco? Brilhante? Fuxia e Garota verão? Sinto-me indecisa e levo várias cores para o quarto. Enquanto decido pela cor, ligo a TV, afim de quebrar aquele silêncio estranho de estar só em casa. A novela me é indiferente. Em contraste, meus olhos atentos preenchem as unhas, borrando-as o mínimo possivel nos cantos.
"Uma mulher já foi encontrada" ouco de relance falar a TV. "Impossível de prever quando a região serrana voltará a ser a mesma" Meus olhos agora procuram-na, o telejornal é tenso, rechado de notícias das chuvas, uma após a outra. Dou os ombros "Mais uma vez, ganhando em cima da desgraća dos outros, penso ligeiramente irritada.
As notícias prossegeuem. Limpo os catinhos borrados. Mães chorosas. Base fixadora. Criancas orfãs. Óleo secante. Resgates milagrosos. Ah! Milagre, estão impecáveis. Sorrio apreciando as unhas e por detrás dos dedos, na TV, sorri também a entrevistada que acabou, pessoalmente, de entregar as doacões aos desabrigados. Aos poucos baixo minha mão afim de ver melhor a tela, murmurando aflita o fato de não der doado sequer um grão de arroz e repentinamente desmorono em remorso.
Aquelas criancas com as quais nunca me importei, vítimas daquela tragédia que não sei bem qual é, afetadas pelo rio que todo ano enche e por aquelas casas desbarrancadas que não deveriam estar ali... Meu deus, que horror, que horror! Meu coracao pesa, corro à dispensa, sentindo--me aflita ao procurar feijão, bolachas, água potável e barrinhas de ceral diet. De uma vez meto a mão no armário e aquele saco de arroz, tão transparente e plástico, raspa em meu indicador direito, estragando a combinacão perfeita de Garota verão e Fuxia. O chão me falta novamente, e atordoada largo o quer que eu tenha em mãos, afim de achar acetona, palito e algodão. De volta ao quarto, tento corrigir a catástrofe. Arrumo atenta o esmalte e antes mesmo que o tenha aplicado óleo secante observo mais uma vez a TV. Outra novela, um pequeno alívio. Um casal se beija e meu olhar se perde por alguns segundos naquela cena. Vagarosamente meu coracao enche-se de esperanca e por um instante penso que o mundo não poderia ser tão cruel para ninguém. A solucão deveria ser simples, tal qual é recombinar duas cores distintas numa unha estragada.

1 Comentários:

  • Ok, vou admitir que fiquei parada, tentando saber o que comentar sem dizer que foi verdadeiro e praticamente a minha reação ao saber das chuvas. Bom, vou tentar, mesmo sem ter sucesso. Se tivesse uma solução simples assim, tenho certeza que seria melhor para todos... Existem coisas tão fáceis na vida, assim como arrumar esses "desastres" de esmalte, mas é tão difícil arrumar esses "desastres" de água e lama! -ignore. Adorei o texto, Denise, de verdade (:

    Por Anonymous Nina, Às sexta-feira, 21 janeiro, 2011  

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